sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre o Músico Florista

Seria cedo demais pra bater a porta de alguém oferecendo amores em calda e bombons de cajá? Talvez todos estivessem dormindo, ou deitados com seus pijamas brancos torcendo pra que os raios solares não atingissem ferozmente seus olhos avisando que era hora de despertar pra mais um dia daqueles.

Mesmo assim Orquídea batia a porta de João insistentemente, diariamente, torcendo pra que estivesse em um dia bom e logo soltava:

- Bom dia, João. Trouxe amor em calda e bombons de cajá.

Mas ele parecia decidido a não aceitar amores e bombons de cajás de meninas com nomes de flores.

Teimoso!

- Não seria mais fácil aceitar o amor, João? – Ela perguntava.

Para João, não. Ele não queria correr o risco. Não queria ligar-se a nada. Tinha medo de querer bombons de cajá no café da manhã. Dizia que fazia mal. Se aceitasse uma vez, ele poderia sentir falta no dia que ela, casualmente, não aparecesse. Mal sabe ele que Ela jamais deixaria de bater a sua porta se a deixasse entrar uma única vez.

Ele pensava em tudo, antecipadamente, Sempre. Não parecia gostar de correr riscos, sentir-se irracional e livre, como Orquídea se sentia.

E repetidamente, todos os dias, ele dizia:

- Vai! Vai!

Arrancando um olhar triste da menina dos doces, que incrivelmente não desistia. Ela sabia que ele era único, como bombons de cajá.

· Dos textos sobre Orquídeas e floristas [2]

Nenhum comentário:

Postar um comentário