segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Mar Morto


Insinua-se

Convence-te

Alastra-se

Corrói-te

Sufoca-te com interrogações

Com suas curvas que se entrelaçam em teu pescoço

É preciso força-las

Rompê-las

Transforma-las em esbeltas e decididas exclamações

Para prolongar o tempo

Até chegar ao fim

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O vazio cheio e bagunçado.

[...]

Eu poderia até considerar que isso não é problema meu, mas Lila, traindo a ti, traí a mim mesma e essa não seria a pior forma de traição?




*Das cartas que não precisam ser entregues.

domingo, 20 de março de 2011

Essa história de que amor dói..

Eu até amo, mas o que me dói mesmo é a saudade!

Estalo

Era sábado.

Orquídea não foi a casa de joão pela manhã como sempre fazia e talvez isso o tenha feito pensar: " E se ela nao vier mais? E se ela tiver cansado? E se tiver desistido de me vender amor em caldas e doces de cajá?".

Bom o que ele realmente pensou a gente nunca vai saber, mas o fato é que Orquídea, envolta por inúmeros contratempos, foi até a casa de João para fazer suas vendas diárias apenas no fim do dia. Sob a Luz imensamente brilhante da Lua , tocou a campainha.

- Bom Noite, João. Trouxe amor em calda e bombons de cajá.
- Pode entrar!
- Como?
- Entra antes que eu mude de idéia.

E foi assim, em um dia aparentemente qualquer, que João permitiu que Orquídea entrasse na sua vida. Talvez não seja interessante pensarmos nos motivos da atitude dele, o fato é que nesse momento ela estava lá, sentada no sofá da sua sala, um pouco tímida e completamente trêmula enquanto ele parecia agir com naturalidade invejável.

- Então João, desejas amor em caldas ou bombons de cajá?
- Deixe toda a sua cesta aqui. Vou aceitar todos.

Orquídea não conseguia parar de buscar as respostas para aquelas atitudes tão inesperadas. Tudo em vão.

Depois de deixar tantos doces na casa de João, Orquídea amanheceu sem saber se deveria visitá-lo novamente como fazia todos os dias pela manhã: - "Com certeza ele não conseguiu comer todos aqueles doces sozinho".
No caminho decidiu ir e foi, mesmo esperando uma resposta negativa.

- Bom dia, João. Na dúvida, resolvi trazer mais doces, caso tu tenhas gostado.
João pegou toda a cesta de doces e retribuiu com uma das flores da sua estufa, cuidadosamente escolhida, amarela, colorida e perfumada.
- Obrigado!

Acho que João estava todo esse tempo apenas esperando que a flor amadurecesse.
Só nos resta tentar saber qual das duas...



[Continua.. ]

· Dos textos sobre Orquídeas e floristas [4]

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Tão presente quanto o presente presente

[" Her love is a rose pale and dying" (8)]


Estava certa de que não teria problemas em falar do que não volta mais, embora nunca fizesse isso. Aliás, não gostava de tratar desse assunto dessa forma. Considerava o passado sempre tão presente quanto o presente presente e costumava dizer: - " Quem diz que o “passado” não existe dentro de si, mente".
Ela sabia que era preciso encerrar uma etapa e iniciar outra, e que encerrar não significava esquecer, e que iniciar nada tinha a ver com substituir.
Ao final de um dia qualquer, deitada de pernas pro ar, Carú deixou que seus pensamentos viessem livres, sem chamar sua própria atenção por isso, como costumava fazer. Pensou nos sentimentos - ela sempre pensava em sentimentos - e nas cores que daria pra cada um deles se os encontrasse por aí, pensou nas cores em si, pensou no lilás, pensou no verde, no amarelo e no azul; mas o azul em especial fez com que se lembrasse de alguém.
E ao lembrar-se desse alguém recordou o dia em que ganhou seu primeiro arranjo de rosas vermelhas e de todas as outras que ganhou em seguida, a maioria delas acompanhadas de delicados cartõezinhos. E recordou a primeira pulseirinha que ganhou dele - seu presente preferido, embora ela nunca tenha dito isso - toda dourada com coraçõezinhos repletos de pedrinhas transparentes e branquinhas, e do CD com as canções de um filme que continua a ser um dos seus preferidos e da ultima canção, que sempre recebeu atenção especial, era instrumental.
Carú recordou das bandas que ouviam e dos lugares que costumavam freqüentar e dos que não iam de jeito algum; e da pizza que pediam sem nunca mudar o sabor; e do cinto de segurança do carro dele que sempre travava quando ela tentava colocá-lo, e do jeito que ele o colocava nela e do jeito que ele dirigia parecendo flutuar. Ninguém dirigia daquele jeito, só ele.
Pensando nisso tudo chegou aos “porquês” e logo desistiu deles.
Voltou às rosas e lembrou-se do último dia que viu uma das que ele havia lhe dado. Procurando algo que, nesse momento, se tornou insignificante, Carú abriu o livro que ele havia lhe dado, e lá estava a rosa, já seca. Em um simples impulso, Carú a tomou pelas mãos e no instante seguinte sentiu seu indicador arder. Se deu conta que aquela rosa guardou consigo espinhos que ela jamais havia percebido e mais que isso, se deu conta que toda relação é exatamente assim.
Foi tentada a acreditar que coisas que pareciam tão certas e definidas,tão inquestionáveis, hoje são erradas, mas não as viu assim. Carú escolheu, então, tratar realmente suas lembranças como rosas, e as manter guardadas em um livro que ele lhe deu e em um coração que agora ela já não considera só seu.

Encerrou uma etapa e iniciou outra.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Talvez se fosse um Girassol.


* Dos textos sobre Orquídeas e Floristas [3]

Sobre o Músico Florista

Seria cedo demais pra bater a porta de alguém oferecendo amores em calda e bombons de cajá? Talvez todos estivessem dormindo, ou deitados com seus pijamas brancos torcendo pra que os raios solares não atingissem ferozmente seus olhos avisando que era hora de despertar pra mais um dia daqueles.

Mesmo assim Orquídea batia a porta de João insistentemente, diariamente, torcendo pra que estivesse em um dia bom e logo soltava:

- Bom dia, João. Trouxe amor em calda e bombons de cajá.

Mas ele parecia decidido a não aceitar amores e bombons de cajás de meninas com nomes de flores.

Teimoso!

- Não seria mais fácil aceitar o amor, João? – Ela perguntava.

Para João, não. Ele não queria correr o risco. Não queria ligar-se a nada. Tinha medo de querer bombons de cajá no café da manhã. Dizia que fazia mal. Se aceitasse uma vez, ele poderia sentir falta no dia que ela, casualmente, não aparecesse. Mal sabe ele que Ela jamais deixaria de bater a sua porta se a deixasse entrar uma única vez.

Ele pensava em tudo, antecipadamente, Sempre. Não parecia gostar de correr riscos, sentir-se irracional e livre, como Orquídea se sentia.

E repetidamente, todos os dias, ele dizia:

- Vai! Vai!

Arrancando um olhar triste da menina dos doces, que incrivelmente não desistia. Ela sabia que ele era único, como bombons de cajá.

· Dos textos sobre Orquídeas e floristas [2]